sexta-feira, 30 de setembro de 2016

NÚMERO TOTAL DE HABITANTES

Evolução entre 1864 e 2011

Gostaria de chamar a atenção para o facto de o presente levantamento se basear em dois conceitos diferenciados no que respeita ao apuramento do número de habitantes recenseados entre 1864 e 1950.
A "população legal ou residente" designa o número de habitantes que tinham residência oficial num determinado local à data em que o recenseamento se desenrolou.
A “população de facto ou presente” designa o número de habitantes que se encontravam num determinado local à data em que o recenseamento teve lugar, podendo no entanto ter residência oficial noutro local. 
 Quando nos referirmos à população em termos globais iremos seguir o critério do INE, que se baseou nos valores relativos à “população residente”; quando nos referirmos aos grupos etários a nossa fonte será a designada “população de facto”, dela excluindo os habitantes referenciados como sendo de “idade desconhecida”
Esta diferenciação de conceitos é importante para percebermos o porquê de algumas disparidades entre os totais da população e a soma das parcelas dos grupos etários.
De notar ainda que embora o distrito de Setúbal só tenha sido constituído em 1926 decidi incluí-lo neste trabalho a partir de 1864, tomando como referência a população dos concelhos que dele vieram a fazer parte (sendo para o efeito excluídos do distrito de Lisboa). 
Obs.: O Censo de 1864 foi o primeiro que se realizou em Portugal de acordo com as normas estatísticas aprovadas internacionalmente. Realizado em condições muito difíceis apenas apurou o número de habitantes por sexos ("varões" e "fêmeas", solteiros, casados e viúv
os), a idade, o número de ausentes, dos recenseados, dos transeuntes, a população legal e  o número de fogos (correspondentes a famílias).
Número de Habitantes em Portugal, de acordo com os censos de 1864 a 2011
Como evoluiu a "população residente" no período que vai de 1864 a 2011 em cada distrito, nos Açores e na Madeira.

1864
4.286.995 habitantes residentes (4.188.410 habitantes "de facto").
O Porto é o distrito mais populoso com 420 mil habitantes, seguido de Viseu com 366 mil e de Lisboa com 349 mil.
Setúbal aparece como o distrito com menos habitantes, 91 mil, seguido de Portalegre com 98 mil e Évora com 102 mil.
Registam neste ano o número de habitantes mais baixo entre todos os censos: Aveiro, Beja, Braga, Castelo Branco, Coimbra, Évora, Faro, Leiria, Lisboa, Madeira, Portalegre, Porto, Santarém, Setúbal, Viana do Castelo e Viseu.

1878
4.698.984 habitantes (4.550.699 habitantes "de facto").
O Porto continua a ser o distrito mais populoso, com 468 mil habitantesseguido de Lisboa com 415 mil e de Viseu com 389 mil.
Setúbal continua a ser o distrito com menos habitantes, com 102 mil, seguido de Portalegre com 106 mil e Évora com 114 mil.

1890
5.102.891 habitantes (5.049.729 habitantes "de facto").
O Porto continua a ser o distrito mais populoso com 549 mil habitantes, seguido de Lisboa com 498 mil e de Viseu com 399 mil.
Setúbal continua a ser o distrito com menos habitantes, 115 mil, seguido de Portalegre com 115 mil e Évora com 122 mil.

1900
5.446.760 habitantes (5.423.132 habitantes "de facto").
O Porto continua a ser o distrito mais populoso, com 599 mil habitantes, seguido de Lisboa com 566 mil, e de Viseu com 410 mil.
Portalegre passa a ser o distrito com menos habitantes, com 126 mil habitantesseguido de Évora com 129 mil e Setúbal com 134 mil.

1911
5 999 146 habitantes (5.960.056 habitantes "de facto").
Lisboa passa a ser o distrito mais populoso, com 681 mil habitantes, seguido do Porto com 681 mil e de Viseu com 422 mil.
Portalegre continua a ser o distrito com menos habitantes, 144 mil, seguido de Évora com 150 mil e Setúbal com 166 mil.


1920
6.080.135 habitantes (6.032.991 habitantes "de facto").
O decénio de 1910-1920 é marcado por duas circunstâncias que vieram a condicionar fortemente a evolução populacional que se vinha a registar nos últimos anos: a 1ª Grande Guerra e a gripe pneumónica.
 As dificuldades económicas criadas pelo conflito que atingiu a Europa, acrescida dos milhares de soldados deslocados para França, juntamente com o aumento da mortalidade originada pela gripe pneumónica levaram a que dez distritos registem uma quebra populacional, com especial incidência para os do Nordeste do País e para os Açores.
Lisboa continua a ser o distrito mais populoso, com 743 mil habitantes, seguido do Porto com 707 mil e Viseu com 411 mil.
Portalegre mantém-se como o menos populoso, com 151 mil habitantes, seguido de Évora com  156 mil, e Bragança com 170 mil.
O arquipélago dos Açores regista neste ano o número de habitantes mais baixo entre todos os censos.

1930
6.802.429 habitantes (6.825.883 habitantes "de facto").
Passados os horrores da guerra, conseguida a estabilidade política após a instauração do Estado Novo e condicionada pelos obstáculos levantados à emigração por parte de alguns países, Portugal vai aumentar o ritmo do crescimento populacional até aos anos 50. 
Lisboa continua a ser o distrito mais populoso, com 903 mil habitantes, seguido do Porto com 806 mil e Viseu com 441 mil.
Portalegre mantém-se como o menos populoso, com 165 mil habitantes, seguido de Évora com 179 mil, e Bragança com 187 mil.

1940
7.755.423 habitantes residentes (7.722.152 habitantes presentes).
É o ano que regista o maior aumento da população desde que há recenseamentos.
Lisboa continua a ser o distrito mais populoso, com 1 milhão de habitantes, seguido do Porto com 941 mil e Braga com 488 mil.
Portalegre mantém-se como o menos populoso, com 189 mil habitantes, seguido de Évora com 210 mil, e Bragança com 214 mil.

1950
8 510 240 habitantes residentes (8.441.312 habitantes de facto).
O período de 1940/50 é marcado pelo desencadear da 2ª Grande Guerra. Ainda que não haja mobilização de militares para a frente de batalha, as dificuldades e as incertezas pelo futuro vão influenciar a taxa da natalidade, com reflexos numa quebra do ritmo de crescimento na população mais jovem. 
Lisboa continua a ser o distrito mais populoso, com 1.2 milhões de habitantes, seguido do Porto com 1 milhão e Braga com 546 mil.
Portalegre mantém-se como o menos populoso, com 200 mil habitantes, seguido de Évora com 222 mil, e Bragança com 228 mil.
Registam neste ano o número de habitantes mais elevado entre todos os censos: Beja, Castelo Branco, Évora, Guarda, Madeira, Portalegre, Viana do Castelo e Viseu.

1960
8 889 392 habitantes.
Acabada a guerra na Europa há dois factores que vão condicionar a evolução da população portuguesa: a reconstrução dos países do centro da Europa, que recorrem à mão de obra estrangeira (o que leva às primeiras vagas de emigrantes portuguesas para estes países) e a reabertura da navegação marítima inter-continental, com a consequente retoma da emigração para o Brasil e, agora em maior número, para as colónias africanas.
E os sintomas do que irá acontecer no decénio seguinte começam a ter lugar em alguns distritos do interior do País. 
Lisboa continua a ser o distrito mais populoso, com 1.4 milhões de habitantes, seguido do Porto com 1.2 milhões e Braga com 597 mil.
Portalegre mantém-se como o menos populoso, agora com 188 mil habitantes, seguido de Évora com  220 mil, e Bragança com 233 mil.
Registam neste ano o número de habitantes mais elevado entre todos os censos: Açores, Bragança, Santarém e Vila Real

1970
 8 648 269 habitantes residentes.
Pela primeira vez Portugal apresenta um saldo negativo na evolução da sua população.
A década de 60/70 do século XX é a década da grande mudança das mentalidades e dos hábitos de vida. É o tempo das revoltas estudantis; dos movimentos de "make peace, not war"; dos Beatles; da democratização do ensino; da libertação da mulher, que abandona o estatuto de doméstica para passar a trabalhar fora de casa; da divulgação da pílula e do aumento do controlo da natalidade; da emigração para França; da ida de parte da população do interior do País para os grandes centros urbanos, seja para continuar os estudos, seja para procurar melhores condições de vida; das guerras coloniais que levam alguns milhares de jovens para as ex-colónias e muitos outros a engrossar as vagas dos emigrantes ilegais para França (que chegam a atingir o dobro dos emigrantes legais).
Lisboa continua a ser o distrito mais populoso, com 1.6 milhões de habitantes, seguido do Porto com 1.3 milhões e Braga com 613 mil.
Portalegre mantém-se como o menos populoso, agora com 146 mil habitantes, seguido de Évora com 179 mil, e Bragança com 180 mil.

1981
9.833.014 habitantes.
Durante o período de 1970 a 1981 os acontecimentos políticos que ocorrem em Portugal no ano de 1974 vão ter reflexos nos resultados da evolução da população portuguesa: a vinda de cerca 600 mil residentes portugueses na ex-colónias de África, a redução da emigração para a Europa e a entrada de um significativo número de imigrantes provenientes dos países do leste da Europa, do Brasil e dos Palop. 
A grande maioria dos então designados por "retornados" vai distribuir-se principalmente pelos distritos de Lisboa, do Porto e de Setúbal e, ainda que em menor escala, pelos restantes distritos, numa operação de integração social que ainda hoje é consideradas das mais bem conseguidas em todo o mundo.
Lisboa continua a ser o distrito mais populoso, agora com 2.1 milhões de habitantes, seguido do Porto com 1.6 milhões e Braga com 709 mil.
Portalegre mantém-se como o menos populoso, agora com 143 mil habitantes, seguido de Évora com 180 mil, e Bragança com 184 mil.

1991
 9 867 147 habitantes.
Apesar de o número de imigrantes provenientes de outros países tenha aumentado, a quebra que se verifica nas camadas mais jovens da população portuguesa justifica este reduzido crescimento.
E uma vez mais são os distritos do interior, designadamente da zona raiana, os mais afectados pela quebra populacional.
Lisboa continua a ser o distrito mais populoso, mantendo os anteriores 2.1 milhões de habitantes, seguido do Porto com 1.6 milhões e Braga com 748 mil.
Portalegre mantém-se como o menos populoso, agora com 134 mil habitantes, seguido de Bragança com 158 mil, e Beja com 169 mil.

2001
10 356 117 habitantes.
 Apesar da contínua baixa de natalidade, a imigração continua a mascarar o declínio populacional registado no País, que ultrapassa pela primeira vez a barreira dos 10 milhões.
Ainda que os valores não sejam tão elevados como no decénio anterior, alguns distritos do interior continuam a perder população.
Lisboa continua a ser o distrito mais populoso, mantendo os anteriores 2.1 milhões de habitantes, seguido do Porto com 1.8 milhões e Braga com 831 mil.
Portalegre mantém-se como o menos populoso, agora com 127 mil habitantes, seguido de Bragança com 149 mil, e Beja com 161 mil.
Regista neste ano o número de habitantes mais elevado entre todos os censos: Coimbra

2011
10 562 178 habitantes. 
As difíceis condições económicas vividas pelo Pais neste primeiro decénio do século XXI, designadamente as resultantes da crise financeira de 2008, vão levar a que muitos dos imigrantes regressem aos seus países de origem e que muitos dos portugueses (designadamente os que se situam na faixa etária dos 15 aos 24 anos) tenham emigrado para outros países da Europa.
Lisboa continua a ser o distrito mais populoso, com 2.3 milhões de habitantes, seguido do Porto com 1.8 milhões e Braga com 851 mil.
Portalegre mantém-se como o menos populoso, agora com 119 mil habitantes, seguido de Bragança com 136 mil, e Beja com 153 mil.
Registam neste ano o número de habitantes mais elevado entre todos os censos: Aveiro, Braga, Faro, Leiria, Lisboa, Porto e Setúbal.
Registam neste ano o número de habitantes mais baixo entre todos os censos: Bragança, Guarda e Vila Real
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Ainda que a questão da evolução da população portuguesa tenha sido colocada de forma muito geral, parece-me que podemos, desde já, retirar algumas conclusões:
- a variação da população portuguesa depende de vários factores, uns de índole interna e outros de índole externa;
- essa variação não é uniforme ao longo dos diferentes recenseamentos e difere de distrito para distrito
- é notória a quebra verificada na maior parte dos distritos do interior, contrabalançada pelo aumento significativo de população nos distritos situados na zona litoral.
No fundo, o que daqui ressalta são dois fenómenos que estão subjacentes às alterações da população portuguesa: 
  • a desertificação populacional do interior de Portugal;
  • o desenvolvimento populacional da zona litoral do País
Mas mais importante do que olharmos apenas para os valores globais da população residente, registados nos recenseamentos, é verificarmos as alterações que se registaram ao nível dos diferentes grupos etários.


















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Introdução

A evolução da população portuguesa entre 1864 e 2011 Variação da população dos concelhos Muito se fala da crise económica e da crise...