Evolução entre 1864 e 2011
Gostaria de chamar a atenção para o facto de o presente levantamento se basear em dois conceitos diferenciados no que respeita ao apuramento do número de habitantes recenseados entre 1864 e 1950.
A "população legal ou residente" designa o número de habitantes que tinham residência oficial num determinado local à data em que o recenseamento se desenrolou.
A “população de facto ou presente” designa o número de habitantes que se encontravam num determinado local à data em que o recenseamento teve lugar, podendo no entanto ter residência oficial noutro local.
Quando nos referirmos à população em termos globais iremos seguir o critério do INE, que se baseou nos valores relativos à “população residente”; quando nos referirmos aos grupos etários a nossa fonte será a designada “população de facto”, dela excluindo os habitantes referenciados como sendo de “idade desconhecida”
Esta diferenciação de conceitos é importante para percebermos o porquê de algumas disparidades entre os totais da população e a soma das parcelas dos grupos etários.
De notar ainda que embora o distrito de Setúbal só tenha sido constituído em 1926 decidi incluí-lo neste trabalho a partir de 1864, tomando como referência a população dos concelhos que dele vieram a fazer parte (sendo para o efeito excluídos do distrito de Lisboa).
De notar ainda que embora o distrito de Setúbal só tenha sido constituído em 1926 decidi incluí-lo neste trabalho a partir de 1864, tomando como referência a população dos concelhos que dele vieram a fazer parte (sendo para o efeito excluídos do distrito de Lisboa).
Número de Habitantes em Portugal, de acordo com os censos de 1864 a 2011 |
1864
4.286.995 habitantes residentes (4.188.410 habitantes
"de facto").
O Porto é o distrito mais populoso com 420 mil habitantes,
seguido de Viseu com 366 mil e de Lisboa com 349 mil.
Setúbal aparece como o distrito com menos habitantes, 91
mil, seguido de Portalegre com 98 mil e Évora
com 102 mil.
Registam neste ano o número de habitantes mais baixo
entre todos os censos: Aveiro, Beja, Braga, Castelo Branco, Coimbra, Évora, Faro, Leiria, Lisboa, Madeira, Portalegre, Porto, Santarém, Setúbal, Viana do Castelo e Viseu.
1878
4.698.984 habitantes (4.550.699 habitantes "de
facto").
O Porto continua a ser o distrito mais populoso, com 468
mil habitantes, seguido de Lisboa com 415 mil e
de Viseu com 389 mil.
Setúbal continua a ser o distrito com menos habitantes, com 102
mil, seguido de Portalegre com 106 mil e Évora
com 114 mil.
1890
5.102.891 habitantes (5.049.729 habitantes "de
facto").
O Porto continua a ser o distrito mais populoso com 549
mil habitantes, seguido de Lisboa com 498 mil e
de Viseu com 399 mil.
Setúbal continua a ser o distrito com menos habitantes, 115
mil, seguido de Portalegre com 115 mil e Évora
com 122 mil.
1900
5.446.760 habitantes (5.423.132 habitantes "de
facto").
O Porto continua a ser o distrito mais populoso, com 599
mil habitantes, seguido de Lisboa com 566 mil, e
de Viseu com 410 mil.
Portalegre passa a ser o distrito com menos habitantes, com 126
mil habitantes, seguido de Évora com 129 mil e
Setúbal com 134 mil.
1911
5 999 146 habitantes (5.960.056 habitantes "de
facto").
Lisboa passa a ser o distrito mais populoso, com 681 mil habitantes,
seguido do Porto com 681 mil e de Viseu com 422 mil.
Portalegre continua a ser o distrito com menos habitantes, 144
mil, seguido de Évora com 150 mil e Setúbal com 166
mil.
1920
6.080.135 habitantes (6.032.991 habitantes "de
facto").
O decénio de 1910-1920 é marcado por duas circunstâncias que vieram a
condicionar fortemente a evolução populacional que se vinha a registar nos
últimos anos: a 1ª Grande Guerra e a gripe pneumónica.
As dificuldades económicas criadas pelo conflito que atingiu a
Europa, acrescida dos milhares de soldados deslocados para França, juntamente
com o aumento da mortalidade originada pela gripe pneumónica levaram a que dez
distritos registem uma quebra populacional, com especial incidência para os do
Nordeste do País e para os Açores.
Lisboa continua a ser o distrito mais populoso, com 743
mil habitantes, seguido do Porto com 707 mil e Viseu
com 411 mil.
Portalegre mantém-se como o menos populoso, com 151
mil habitantes, seguido de Évora com 156 mil, e
Bragança com 170 mil.
O arquipélago dos Açores regista neste ano
o número de habitantes mais baixo entre todos os censos.
1930
6.802.429 habitantes (6.825.883 habitantes "de
facto").
Passados os horrores da guerra, conseguida a estabilidade política
após a instauração do Estado Novo e condicionada pelos obstáculos levantados à
emigração por parte de alguns países, Portugal vai aumentar o ritmo do
crescimento populacional até aos anos 50.
Lisboa continua a ser o distrito mais populoso, com 903
mil habitantes, seguido do Porto com 806 mil e Viseu
com 441 mil.
Portalegre mantém-se como o menos populoso, com 165
mil habitantes, seguido de Évora com 179 mil, e Bragança
com 187 mil.
1940
7.755.423 habitantes residentes (7.722.152 habitantes presentes).
É o ano que regista o maior aumento da população desde que há
recenseamentos.
Lisboa continua a ser o distrito mais populoso, com 1
milhão de habitantes, seguido do Porto com 941
mil e Braga com 488 mil.
Portalegre mantém-se como o menos populoso, com 189
mil habitantes, seguido de Évora com 210 mil, e Bragança
com 214 mil.
1950
8 510 240 habitantes residentes (8.441.312 habitantes de facto).
8 510 240 habitantes residentes (8.441.312 habitantes de facto).
O período de 1940/50 é marcado pelo
desencadear da 2ª Grande Guerra. Ainda que não haja mobilização de militares
para a frente de batalha, as dificuldades e as incertezas pelo futuro vão
influenciar a taxa da natalidade, com reflexos numa quebra do ritmo de
crescimento na população mais jovem.
Lisboa continua a ser o distrito mais
populoso, com 1.2 milhões de habitantes, seguido
do Porto com 1 milhão e Braga com 546 mil.
Portalegre mantém-se como o menos
populoso, com 200 mil habitantes, seguido de Évora
com 222 mil, e Bragança com 228 mil.
Registam neste ano o número de habitantes mais elevado
entre todos os censos: Beja, Castelo
Branco, Évora, Guarda, Madeira, Portalegre, Viana do Castelo e Viseu.
1960
8 889 392 habitantes.
Acabada a guerra na Europa há dois factores que vão condicionar a
evolução da população portuguesa: a reconstrução dos países do centro da
Europa, que recorrem à mão de obra estrangeira (o que leva às primeiras vagas
de emigrantes portuguesas para estes países) e a reabertura da navegação
marítima inter-continental, com a consequente retoma da emigração para o Brasil
e, agora em maior número, para as colónias africanas.
E os sintomas do que irá acontecer no decénio seguinte começam a ter
lugar em alguns distritos do interior do País.
Lisboa continua a ser o distrito mais populoso, com 1.4
milhões de habitantes, seguido do Porto com 1.2
milhões e Braga com 597 mil.
Portalegre mantém-se como o menos populoso, agora com 188
mil habitantes, seguido de Évora com 220 mil, e
Bragança com 233 mil.
Registam neste ano o número de habitantes mais elevado
entre todos os censos: Açores, Bragança,
Santarém e Vila Real
1970
8 648 269 habitantes residentes.
Pela primeira vez Portugal apresenta um saldo negativo na evolução da
sua população.
A década de 60/70 do século XX é a década da grande mudança das
mentalidades e dos hábitos de vida. É o tempo das revoltas estudantis; dos
movimentos de "make peace, not war"; dos Beatles; da democratização
do ensino; da libertação da mulher, que abandona o estatuto de doméstica para
passar a trabalhar fora de casa; da divulgação da pílula e do aumento do
controlo da natalidade; da emigração para França; da ida de parte da população
do interior do País para os grandes centros urbanos, seja para continuar os
estudos, seja para procurar melhores condições de vida; das guerras coloniais
que levam alguns milhares de jovens para as ex-colónias e muitos outros a
engrossar as vagas dos emigrantes ilegais para França (que chegam a atingir o
dobro dos emigrantes legais).
Lisboa continua a ser o distrito mais populoso, com 1.6
milhões de habitantes, seguido do Porto com 1.3
milhões e Braga com 613 mil.
Portalegre mantém-se como o menos populoso, agora com 146
mil habitantes, seguido de Évora com 179 mil, e Bragança
com 180 mil.
1981
9.833.014 habitantes.
Durante o período de 1970 a 1981 os acontecimentos políticos que
ocorrem em Portugal no ano de 1974 vão ter reflexos nos resultados da evolução
da população portuguesa: a vinda de cerca 600 mil residentes portugueses na
ex-colónias de África, a redução da emigração para a Europa e a entrada de um
significativo número de imigrantes provenientes dos países do leste da Europa,
do Brasil e dos Palop.
A grande maioria dos então designados por "retornados"
vai distribuir-se principalmente pelos distritos de Lisboa, do Porto e de
Setúbal e, ainda que em menor escala, pelos restantes distritos, numa operação
de integração social que ainda hoje é consideradas das mais bem conseguidas em
todo o mundo.
Lisboa continua a ser o distrito mais populoso, agora com 2.1
milhões de habitantes, seguido do Porto com 1.6
milhões e Braga com 709 mil.
Portalegre mantém-se como o menos populoso, agora com 143
mil habitantes, seguido de Évora com 180 mil, e Bragança
com 184 mil.
1991
9 867 147 habitantes.
Apesar de o número de imigrantes provenientes de outros países tenha
aumentado, a quebra que se verifica nas camadas mais jovens da população
portuguesa justifica este reduzido crescimento.
E uma vez mais são os distritos do interior, designadamente da zona
raiana, os mais afectados pela quebra populacional.
Lisboa continua a ser o distrito mais populoso, mantendo os
anteriores 2.1 milhões de habitantes, seguido do
Porto com 1.6 milhões e Braga com 748 mil.
Portalegre mantém-se como o menos populoso, agora com 134
mil habitantes, seguido de Bragança com 158 mil, e Beja
com 169 mil.
2001
10 356 117 habitantes.
Apesar da contínua baixa de natalidade, a imigração continua a
mascarar o declínio populacional registado no País, que ultrapassa pela
primeira vez a barreira dos 10 milhões.
Ainda que os valores não sejam tão elevados como no decénio anterior, alguns distritos do interior continuam a perder população.
Ainda que os valores não sejam tão elevados como no decénio anterior, alguns distritos do interior continuam a perder população.
Lisboa continua a ser o distrito mais populoso, mantendo os
anteriores 2.1 milhões de habitantes, seguido do Porto
com 1.8 milhões e Braga com 831 mil.
Portalegre mantém-se como o menos populoso, agora com 127
mil habitantes, seguido de Bragança com 149 mil, e Beja
com 161 mil.
Regista neste ano o número de habitantes mais elevado
entre todos os censos: Coimbra
2011
10 562 178 habitantes.
As difíceis condições económicas vividas pelo Pais neste primeiro
decénio do século XXI, designadamente as resultantes da crise financeira de
2008, vão levar a que muitos dos imigrantes regressem aos seus países de origem
e que muitos dos portugueses (designadamente os que se situam na faixa etária
dos 15 aos 24 anos) tenham emigrado para outros países da Europa.
Lisboa continua a ser o distrito mais populoso, com 2.3
milhões de habitantes, seguido do Porto com 1.8
milhões e Braga com 851 mil.
Portalegre mantém-se como o menos populoso, agora com 119
mil habitantes, seguido de Bragança com 136 mil, e Beja
com 153 mil.
Registam neste ano o número de habitantes mais elevado
entre todos os censos: Aveiro, Braga,
Faro, Leiria, Lisboa, Porto e Setúbal.
Registam neste ano o número de habitantes mais baixo
entre todos os censos: Bragança, Guarda e
Vila Real
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Ainda que a questão da evolução da população portuguesa tenha sido
colocada de forma muito geral, parece-me que podemos, desde já, retirar algumas
conclusões:
- a variação da população portuguesa depende de vários factores, uns
de índole interna e outros de índole externa;
- essa variação não é uniforme ao longo dos diferentes recenseamentos
e difere de distrito para distrito
- é notória a quebra verificada na maior parte dos distritos do
interior, contrabalançada pelo aumento significativo de população nos distritos
situados na zona litoral.
No fundo, o que daqui ressalta são dois fenómenos que estão subjacentes às alterações da população portuguesa:
No fundo, o que daqui ressalta são dois fenómenos que estão subjacentes às alterações da população portuguesa:
- a desertificação
populacional do interior de Portugal;
- o desenvolvimento
populacional da zona litoral do País
Mas mais importante do que olharmos apenas para os valores globais da
população residente, registados nos recenseamentos, é verificarmos as
alterações que se registaram ao nível dos diferentes grupos etários.
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